roteiro de volta ao mundo


Para onde ir quando se tem, literalmente, o mundo inteiro como opção? E, aparentemente, tempo de sobra para se esbaldar por aí? Como planejar um roteiro de volta ao mundo?

Em geral, quem gosta de viajar, gosta também de se informar sobre lugares para conhecer. Como você está aqui lendo este blog, supomos que seja também o seu caso. Mas existe uma diferença entre ler sobre destinos e se deixar sonhar (o que também fazemos muito) e efetivamente planejar uma viagem. Porque no planejamento é preciso estimar minimamente a duração em cada local, avaliar se é a época certa do ano para ir, ter uma ideia de custos etc. Além disso, bate aquela ansiedade de pensar: “será que estou deixando passar alguma coisa que eu vou me arrepender depois de não ter conhecido?” Esse olhar mais meticuloso é uma tarefa que nem todos terão o mesmo prazer em executar.

Planejar um mochilão de um ano inteiro ao redor do planeta pode sim se tornar uma missão cansativa. Nós mesmos investimos mais tempo pensando os primeiros meses da volta ao mundo e deixamos o restante para ir refinando no caminho. E há quem opte por sair praticamente sem qualquer plano. Funciona para muitas pessoas. Mas sair sem planos é diferente de sair desinformado. Se você não tiver uma boa ideia das possibilidades que existem, seja em uma cidade, em um país ou no planeta como um todo, é quase certo que algumas boas oportunidades serão perdidas. Por outro lado, tentar planilhar hora a hora as atividades de cada dia pode engessar a viagem e tirar a sua espontaneidade. No final, será sempre uma escolha pessoal que terá a ver com o perfil de cada viajante.

Como fizemos o nosso roteiro de volta ao mundo

A construção do roteiro envolveu várias etapas. Em primeiro lugar, é claro, estavam os nossos sonhos. As referências e vontades acumuladas ao longo da vida. Somamos a isso muita pesquisa e ideias novas. Começamos a detalhar os destinos e a procurar por lugares que estão por aí e que nós nunca havíamos pensado. Nos viciamos em sites como o lonelyplanet e mochileiros.com. Fizemos inúmeras visitas às livrarias para vasculhar os velhos e bons guias de viagem. No começo, tudo era possibilidade.

E um ano, que parecia uma eternidade, logo ficou pouco. Percebemos que muita coisa boa não caberia no roteiro. Deixamos de fora nosso próprio continente porque seria mais fácil ir em viagens futuras. Por conta da logística, de deslocamentos complicados ou caros, alguns destinos ficaram para uma próxima vez. Custos elevados e exigências de vistos difíceis de atender riscaram outras opções. Não queríamos circular com pressa. Nos propusemos um ritmo moderado, com muita diversidade e total liberdade para replanejamentos.

Tentamos mesclar da melhor maneira possível perrengue e vida mansa, história e modernidade, montanhas e praias, multidões e paz. Se possível, evitar ir quando os lugares estivessem lotados e caríssimos. Ir alternando experiências, aproveitando o melhor do clima. Tentamos perseguir uma permanente primavera, sem excessos de chuvas, calor, frio ou gente. Isso foi um desafio à parte, deu trabalho! Mas buscar estar nos lugares na época certa do ano (ou pelo menos evitar a época errada) é absolutamente crucial.

Em nosso plano, em alguns países passaríamos por apenas uma cidade, outros exploraríamos a fundo. Na prática, esse roteiro de volta ao mundo era apenas uma referência, nada definitivo. Fizemos muitas mudanças ao longo do ano. Estendemos ou encurtamos estadias em função das circunstâncias que encontramos, seguimos dicas de outros viajantes e descobertas de última hora e, principalmente, tomamos decisões com base no que estávamos com mais vontade de fazer a cada momento.

Roteiro de volta ao mundo do www.mochilandopelomundo.com

Europa e Oriente Médio

Começamos pela Europa e fomos mais ou menos circulando o mar Mediterrâneo. O primeiro destino foi Portugal, onde recebemos convites de amigos para nos hospedar em Lisboa e no norte, em Guimarães. Na Espanha passamos primeiro por Barcelona e voltaríamos para Madri depois de ficar na casa de um amigo em Grenoble, nos alpes franceses e circular por algumas semanas pelo Marrocos. Aliás, o Marrocos foi onde a coisa começou a ficar séria. Mochilar em países com infraestrutura menos desenvolvida e com maiores barreiras culturais e de comunicação trouxe novos desafios. Tivemos ali muitos aprendizados para o que viria mais tarde.

Estávamos em meio à Primavera Árabe e tivemos que esperar que o Oriente Médio se acalmasse um pouco para colocar os pés por lá. Quando as fronteiras se abriram, chegamos em um Egito quase que sem outros turistas. Planejamos duas semanas, mas estendemos até o limite de um mês do visto. Tempo dividido entre pirâmides e templos em torno do Nilo e praias e mergulhos na Mar Vermelho. Do Sinai, fomos a Petra e Aman, na Jordânia. Jerusalém e Tel Aviv em Israel.

Foi em algum ponto durante esse período que viajar pelo mundo virou rotina. Quando se tornou quase corriqueiro trocar de país, fuso horário, moeda, religião etc. Sucessivas mudanças de perspectiva. Mais do que a língua, mudavam os alfabetos: romano, grego, hebraico, árabe… Mais do que costumes, mudava o valor que se atribuía às coisas no mundo: o que ofende, o que é engraçado, o que é certo ou errado. O papel das mulheres, crianças, gays, de deus, do trabalho etc. Em permanente readaptação, aprendemos e tivemos momentos memoráveis.

Gostaríamos de ter seguido pela Síria e Turquia, mas a instabilidades nesses países era imensa. Voltamos à Europa pela Grécia. Quase um mês entre relíquias históricas, ilhas paradisíacas e monastérios pendurados nas montanhas. Foi marcante observar como que de um lado do Mediterrâneo as mulheres eram obrigadas a cobrir até os olhos com suas burcas e do outro tinham a liberdade de se estirar peladonas na praia.

Passamos também um bom tempo na Itália. Roma, Nápoles, Pompéia, Capri, Florença, Pisa, Lucca, Cinque Terre e Veneza. Aproveitamos o convite de outro amigo para passar uma semana em sua casa em Roterdan, na Holanda. E fechamos essa etapa em Londres. Havíamos chegado à essa região no final do inverno e partimos para Johannesburgo no começo do verão.

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De caminhão pela África

Originalmente, ficaríamos mais tempo na África do Sul. Mas alguns bons motivos nos meses anteriores nos atrasaram e a gente tinha um compromisso inadiável no dia 14 de julho. Depois de explorar a Cidade e a Península do Cabo com um casal de grandes amigos que estavam em lua de mel, nos juntamos a um grupo para passar algumas semanas em um overland – um safári a bordo de um caminhão em que você acampa pelo caminho e ajuda a cozinhar, limpar e o que mais for preciso. Dessa forma é possível chegar a lugares incríveis sem estourar o orçamento. Não se enganem, viajar pela África pode sair absurdamente caro.

Fizemos a costa atlântica da África do Sul, passamos pelo River Fish Canyon e pelas enormes dunas do Deserto da Namíbia. Exploramos parques nacionais como Chobe, Etosha e o Okavango Delta, em Botswana. Até em Angola nós entramos, mas bem rapidamente e de forma ilegal. Fechamos esse trajeto nas Victoria Falls, entre a Zâmbia e o Zimbábue. Além de cuidar da casa sobre rodas, tivemos a difícil tarefa de buscar por elefantes, leões e rinocerontes. E de conviver entre nós, um grupo de 15 pessoas. Aliás, essa convivência, os amigos e as histórias que ficaram desses dias foram um dos pontos altos da volta ao mundo.

Já por nossa conta, atravessamos o Zimbábue e voltamos para Johanesburgo para embarcar para a terceira etapa da viagem, a Ásia.

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Rumo ao coração da Ásia

Das savanas africanas para a super metrópole Hong Kong. Pode parecer abrupto, mas foi na verdade uma transição até suave para o que estava por vir. Essa cidade com um pé no ocidente e outro no oriente foi nossa porta de entrada para uma imersão de dois meses na China. Por sinal, a China no final do ano foi eleita como o destino predileto de toda a viagem.

Começamos pelas paisagens espetaculares do sul do País como as icônicas montanhas de Yangshuo. Passamos dias caminhando entre montanhas e arrozais, visitamos cidades como Kunming e Dali, além de templos e parques naturais de todo tipo. No centro do País, vimos pandas, guerreiros de terracota e budas gigantes. No norte, vilas históricas e a ultra moderna Shanghai. Na capital Beijing, ficamos por quase duas semanas. A China não parava de nos surpreender!

O contraste entre tradição e modernidade, pujança e pobreza, progresso ordenado e caos nas ruas. A China é o máximo! Os chineses são muito receptivos. É fácil de viajar, apesar das enormes dificuldades de comunicação. Estivemos sempre relaxados e deslumbrados. Por fim, embarcamos em uma viagem de trem de 44 horas entre Beijing e Lhasa, no Tibet. É necessário tirar uma série de permissões na para poder ir para lá.

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O Tibet é uma região ocupada na marra pela China. Os tibetanos são extremamente oprimidos pelas forças chinesas e sua cultura e tradições veem sendo destruídas de forma sistemática. Foi um privilégio poder conhecer o país deles. Realmente inesquecível. A capital Lhasa, os monastérios e paisagens do interior e também a oportunidade de acampar na base do Monte Everest. Do budismo tibetano, atravessamos o himalaia em direção ao hinduísmo do Nepal. Outro lugar único, completamente distante da nossa realidade, cheio de trekkings alucinantes para fazer.

Nepal e Índia são dois países onde há extrema pobreza e extrema desorganização. Foi uma experiência interessante cruzar a fronteira entre eles a pé, em meio ao caos e sujeira. Nem sempre é simples mochilar pela Índia. Mas, a essa altura, estávamos mais do que preparados. Entre trens lotados, estradas malucas e tuc-tucs, passamos por Varanassi, Agra, Jaipur, Mumbai e Ellora. Muitas coisa bonita, mas muito intenso. Era hora de relaxar e o Sudeste Asiático foi o lugar perfeito para isso.

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Sudeste Asiático e Oceania

Não esperávamos nada menos do que o paraíso nas praias do Sudeste Asiático. Mas, o primeiro destino foi urbano: a sensacional Bangkok. De lá, seguimos para as ruínas de Angkor, no Camboja e tivemos três semanas lentas e de paz no Laos. No Vietnã, conhecemos Hanói e Halong Bay e finalmente voltamos à Tailândia para nos acabar nas ilhas com suas praias maravilhosas. Tivemos areia branca e mar transparente em Koh Phi Phi, mergulhos em Koh Tao e 2012 chegou em uma festa maluca em Koh Phangan.

Viajar pelo Sudeste Asiático é muito fácil. Há uma multidão de mochileiros circulando entre os destinos e tudo de um jeito ou de outro funciona no final. Foi um tempo de chinelos no pé e pouca preocupação na cabeça. Fomos descendo em direção à Indonésia, passando pelas metrópoles modernas de Kuala Lumpur e Cingapura.

Em Bali vivemos uma saga para conseguir um visto para Austrália. Em Gilli Trawgan, paramos por uma semana para mergulhar e ficar de papo pro ar na praia. Em Sidney passamos alguns dias no ritmo frenético de turista. E nas duas últimas semanas de nossa volta ao mundo, alugamos uma van que virou nossa casa ambulante pela Nova Zelândia. Um encerramento com chave de ouro.

Um ano depois, muitos sonhos realizados e muitas lições aprendidas, voltamos para o Brasil para morar no Rio de Janeiro.

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