como planejar uma volta ao mundo


Largar o trabalho, deixar tudo para trás e partir para uma viagem épica de volta ao mundo durante um ano. Em um primeiro momento, isso pode parecer coisa de gente muito rica ou muito desajuizada. Mas não é uma coisa, nem outra. Pelo menos não precisa ser. Um ano sabático mochilando pelo planeta pode ser mais viável do que parece, basta um pouco de coragem e planejamento. Foi o que fizemos. Partimos em fevereiro de 2011 para visitar 27 países em cinco continentes. E, então, em fevereiro de 2012, voltamos para o Brasil e retomamos nossas vidas.

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Não existe hora certa

Foi um ano de alguns sacrifícios e grandes recompensas. Não é preciso tanto dinheiro quanto pode parecer em um primeiro momento, desde que se esteja disposto a abrir mão do conforto em certas situações. Também não demanda nenhum conhecimento muito específico, mas é importante investir tempo em pesquisa e preparação. E talvez o mais importante: não se deve esperar pela “hora certa”. Isso não existe. Vá o quanto antes, vá mesmo que ainda não se sinta “pronto”. Provavelmente, você nunca estará pronto de qualquer forma.

Sonhos podem nunca zarpar se ficarmos idealizando demais, planejando demais, esperando demais pelo momento certo. Mas ao mesmo tempo podem naufragar se a gente se apressar muito e partir sem um mínimo de planejamento. Vimos alguns casos de viagens abortadas pouco depois do começo por falhas na preparação. E muitos mais casos de viagens não realizadas por excesso de adiamentos.

Na nossa preparação, algumas decisões foram tomadas logo quando resolvemos que faríamos essa viagem. A duração de um ano foi uma delas. Hoje, avaliamos que teria valido à pena ter ficado ainda mais tempo viajando. Sem arrependimentos, porém. Definimos também a data de partida. Isso nos deu uma dimensão do prazo que teríamos para nos preparar. É fundamental fazer essa transição do “sonho” para o “projeto”. Era muito gostoso nos imaginar pelo mundo, pulando de país em país. Mas o projeto que precedeu a partida era cheio de coisas chatas para resolver. O nosso foco se voltou para renovar os passaportes, tomar vacinas, pesquisar sobre a logística etc. Então, um dos primeiros passos é organizar uma lista concreta de decisões e ações a serem tomadas ao longo do tempo. E, é claro, estar comprometido com sua execução.

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O que deve ser feito antes de embarcar

Nesta lista de ações, uma das mais relevantes é mapear os cuidados necessários com a saúde. Não nos entendam mal, estamos longes de sermos hipocondríacos ou algo do tipo. Mas um problema simples de saúde no país errado pode se tornar um perrengue ou até evoluir para alguma coisa grave. As soluções que temos aqui não estarão necessariamente disponíveis lá fora, seja na Inglaterra ou no Zimbábue. Criamos três posts que tratam especificamente sobre como se preparar para uma longa viagem a muitos países diferentes falando sobre vacinas (clique aqui); medicamentos e alimentação (clique aqui); e primeiros socorros (clique aqui).

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Entre as inúmeras tarefas, a mais prazerosa foi desenhar a viagem. Elencar os lugares imperdíveis, definir destinos antes inimagináveis, distribuir os meses ao longo do planeta (ou o planeta ao longo dos meses). Foi gostoso, mas não foi trivial. Em outro post, falamos especificamente sobre a construção do roteiro (clique aqui para ler sobre o roteiro), que deve levar em conta custos, clima, logística, exigências legais etc. Muita gente se preocupa, talvez de forma exagerada, com vistos. Na prática, para os brasileiros a maioria dos países ou não exige vistos ou permite tirá-los na imigração ao chegar. Além disso, ninguém é obrigado a tirar os vistos no Brasil. Nosso visto para China, por exemplo, tiramos na África do Sul. Para Austrália, na Indonésia. Isso pode ser uma necessidade quando o tempo na estrada é longo, uma vez que vistos em geral prescrevem em até seis meses. De qualquer maneira, é recomendável se atualizar sobre a situação dos vistos, que muda com o tempo. Na dúvida, olhe o site do consulado do país que você quer ir.

Outra preocupação que pode ser exagerada é o famoso: “o que levar na mochila?”. Vamos contar um segredo: praticamente tudo o que você pode comprar no Brasil, também existe em outros países! Então, se você saiu de casa e deixou de levar alguma coisa importante, é quase certo que isso não será verdadeiramente um problema. E ainda há boas chances de encontrar mais barato seja lá o que for e onde quer que você esteja. Pior é levar coisas demais. No nosso caso, descobrimos bem rápido que saímos de casa muito pesados. Mochila carregada tira a mobilidade, reduz a liberdade. Na primeira semana, nós despachamos algumas coisas para casa e nos desfizemos de outras. Um dia publicamos algo específico sobre o que costumamos levar. Mas, se for para deixar uma única dica, ela seria: coloque sua mochila nas costas (ou pegue sua mala nas mãos) e suba dois lances de escada. Ficou com preguiça de fazer o teste? Então, tem coisas demais.

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Dinheiro

Dinheiro será sempre um tema relevante. Nós fizemos uma estimativa dos custos no Brasil e voltamos um ano depois tendo gasto 99% do valor orçado. Nada mal para um planejamento tão complexo. Boa parte dessa acurácia se deveu ao fato de que monitoramos esse orçamento ao longo do ano, levando em consideração que alguns destinos seriam (muito) mais caros que outros. E fomos nos adaptando pelo caminho, abrindo mão de algumas coisas e mantendo o foco nos limites que definimos para cada país. Gastar mais do que o previsto pode significar ter que antecipar o fim da viagem ou ser levado a desistir de planos que, a princípio, poderiam ter sido tratados como prioridade. Sabemos de alguns casos desse tipo. Para nós, teria sido uma grande frustração.

Nosso dinheiro ficou em nossa conta no banco e a gente foi sacando aos poucos na moeda local dos países que passávamos. Primeiro, porque no banco pode render e no nosso bolso não. Mas, principalmente, porque levar dinheiro em espécie para durar tanto tempo representaria um risco inaceitável. Se ninguém roubar o dinheiro, ele terá roubado a sua tranquilidade ao longo da viagem. Travel check também nem pensar. Pouco prático e destrói o valor do seu dinheiro. Hoje, praticamente o mundo inteiro aceita cartões e até pagamentos pelo celular ou, pelo menos, tem caixas eletrônicos nas cidades.

Não pagávamos nada no crédito porque na época o IOF de 6,38% não era aplicado sobre saques internacionais (hoje é). E levamos cartões extras do banco em que abrimos uma conta conjunta só para a viagem e de diferentes bancos de nossas contas particulares. Ter cartões extras foi importante quando um caixa eletrônico no Egito engoliu o que a gente usava. De diferentes bancos foi essencial quando em Hong Kong nosso cartão principal simplesmente não era aceito. Vale à pena consultar as taxas de câmbio usadas pelos bancos no cartão, seja para o crédito ou para sacar da conta corrente. Há diferenças que talvez justifiquem até trocar de banco ou de bandeira do cartão, dependendo da duração e custo da viagem. Basta checar na internet as taxas de conversão do dólar. De qualquer forma, tínhamos sempre uma reserva em dólar e em euros em espécie para emergências, o que em geral ficava em nosso money belt. Algumas vezes foi o que nos livrou de ficar completamente sem grana ao chegar em um país diferente. Portanto, tem que levar e repor comprando ou sacando em dólar sempre que for usado.

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O desafio é parar a vida, viajar é fácil

A verdade, é que dar uma volta ao mundo nem dá tanto trabalho assim. Mais complicado foi parar a nossa vida no Brasil. Entre a decisão de largar tudo com nossas mochilas e a data de embarque, ficamos mais tempo resolvendo pendências relacionadas ao que ficaria para trás do que à viagem em si. Empacotamos livros e roupas, extraímos sisos, criamos um blog, vendemos e alugamos o que foi preciso, fomos em alguns médicos, definimos onde guardar nossos móveis, deixamos nossos empregos, acertamos os últimos detalhes e partimos rumo a um dos melhores anos de nossas vidas!

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