Oásis de Bahariya, 02 de abril de 2011
Vir ou não pro Egito tornou-se uma dúvida desde que começaram os protestos contra as ditaduras árabes. Ainda mais quando a coisa ficou feia pro lado de cá e nem os vistos estavam mais sendo concedidos. Então, após 31 anos no poder, Mubarak caiu e a situação começou a voltar ao normal. Bom pros Egípcios, que têm renovadas as esperanças de que enfim os dias melhores virão. Bom pra nós, que relutávamos demais em abrir mão de tudo o que os 5.000 anos de história desse País tinham a nos oferecer!
Assim que recebemos boas notícias, aprontamos nossas mochilas com destino ao Cairo. E, pelo visto, fomos uns dos primeiros. O Egito vive lotado de turistas e é normal haver filas enormes nas principais atrações. Mas, nós não pegamos nenhuma. A concorridíssima galeria do Museu Egípcio com os mais belos tesouros de Tutankamón? Tranquilidade absoluta. Pirâmides? Dava pra se sentir um verdadeiro Indiana Jones explorando maravilhas perdidas no deserto. Parece que o País inteiro está exclusivamente ao nosso dispor. É… o Egito é nosso!

Buzinas, bom humor e malandragem
Com poucos turistas e muita gente que vive do turismo, dá-lhe molestação dos caça-clientes nas ruas. Mas, diferente do Marrocos, dá pra levar o assédio numa boa. Não há hostilidades. Muito pelo contrário, a estratégia é ser o mais amigável possível. Quando as pessoas lhe abordarem na rua da forma mais gentil do mundo, não estranhe, mas desconfie. 99% das vezes haverá alguma segunda intenção em jogo. Siga duas regras básicas e você sobreviverá sem maiores contratempos. A primeira: seja firme, mas mantenha o bom humor. Um “shukran” (obrigado) com um sorriso será mais eficaz do que a impaciência. Regra dois: não seja ingênuo. Eles indicarão o caminho errado, dirão que o museu está fechado pra siesta ou que querem apenas praticar o inglês com você. Simplesmente não acredite. São todos meios pra te levar a alguma loja ou assumirem o papel de seu guia. Informe-se com lojistas e não se deixe seduzir pela aparentemente desinteressada boa vontade dessas pessoas.
O Cairo é uma cidade enorme. Sua região metropolitana é maior que a de São Paulo. Para ter uma ideia de como funciona, pegue os carros da capital paulista e tire praticamente todas as regras de trânsito. Atravessar a rua traz novas emoções a cada esquina. A trilha sonora é um buzinaço sem fim. Todos fazem isso ao mesmo tempo e incessantemente. Para avisar que estão entrando, que estão saindo, que pode passar, que não pode, buzinam até por nada, só pra passar o tempo. Por esses motivos e pelas calçadas estreitas e esburacadas, andar pelas ruas não é exatamente agradável. De qualquer forma, os egípcios levam tudo com um inabalável bom humor. Uma quase batida ou quase atropelamento termina invariavelmente em uma amistosa troca de sorrisos. Incrível!

Atrações na cidade
Essa loucura não é desculpa para não percorrer os pontos mais interessantes. A começar pelo Museu Egípcio, que tem um acervo extraordinário da época dos faraós, ainda que meio “empilhado” nas salas pequenas pra tanto material disponível. Estátuas gigantescas, sarcófagos de ouro e pedras preciosas, jóias, ferramentas com 4.000 anos etc. Há uma opção paga à parte que dá acesso às alas das múmias reais. Tratam-se dos faraós propriamente ditos. É caro e, na verdade, dá pra ver múmias em outros lugares. Como múmia é tudo igual, se você não se importar em ver uma que seja mera proletária, esse dinheiro pode ser economizado. Fora ainda as lendas sobre o acervo não catalogado que espera no sótão do mal conservado prédio, que não garante condições ideais pra preservação do tesouro que guarda. Por sinal, um novo e melhor museu está em construção, mas a obra já vai atrasadíssima. Em resumo, é inigualável. Muito melhor do que as coleções que foram roubadas do Egito nos últimos séculos pra serem expostas na Inglaterra ou na França.

Outro ponto muito visitado é o chamado Cairo Islâmico. Fomos bem recebidos na bela mesquita Al-Azhar e apenas tivemos que esperar pelo final do horário da reza. Uma curiosidade sobre as mesquitas é que elas se configuram como grandes e bonitos espaços pra oração pessoal dos fiéis. Diferente do modelo de uma igreja cristã, não está orientada a um altar onde alguém irá conduzir a celebração. Não há com quem se possa fazer um paralelo direto a um padre ou pastor. Logo ao lado, está Khan al-Khalili, uma região histórica de ruas estreitas e cheia de comércios que lembra muito às medinas do Marrocos. Recomendamos uma parada no café Fishawi’s, aberto há 200 anos. Como um legítimo local, sente-se pra apreciar um chá com menta enquanto saboreia a sheesha, também conhecido como narguile. Sem se afastar muito, é possível avistar a Cidadela, que foi residência dos governantes egípcios por sete séculos.



O Cairo ainda reserva muitas opções para quem dispõe de tempo. Antiquíssimas igrejas cristãs no Cairo Copto, mesquitas e museus para todos os gostos e um passeio na moderna Cidade Jardim às margens do Nilo ou numa falúa – um tipo de embarcação – pra curtir o pôr do sol. Mas, nada se compara às pirâmides…
Pirâmides: um dia pra entrar na nossa História
A imagem clássica da esfinge com as pirâmides ao fundo pertence ao complexo de Gizeh. Porém, depois de ter chegado tão longe, porque não ir mais fundo na história que precedeu a construção dessas obras primas e tornar a experiência ainda mais rica? Em um dia puxado, dá pra visitar Saqqara, Memfis, Darshu e Gizeh. A forma mais prática é alugar um táxi pro dia inteiro. Sai mais em conta do que pode parecer, além de ser inviável fazer isso com transporte público.
Em Saqqara está o maior sítio arqueológico do País. Tem um moderno e bonito museu na entrada e guarda verdadeiras pérolas entre tumbas, templos e pirâmides. Mas, a grande estrela é a Pirâmide Escalonada, a primeira em todo mundo a ser construída. É constituída de degraus e não com a face lisa como as posteriores. É tão importante, que seu arquiteto passou a ser adorado como um Deus séculos depois. Com cerca de 4.750 anos é fruto da aspiração de uma civilização de alcançar os céus e se fazer eternizar. Curioso pensar que as maiores e mais antigas pirâmides resistem ao tempo, enquanto muitas outras construídas milhares de anos depois sucumbiram. A Tumba de Ti, a meia hora de caminhada – que depois descobrimos que poderiam ter sido 5 minutos de carro – guarda belos relevos egípcios e também vale a visita.




Ficamos tanto tempo em Saqqara que tivemos que pular Memfis, capital do Egito Antigo, mas da qual muito pouco sobreviveu ao tempo.
Em Dashur não havia absolutamente nenhum outro visitante. Pareceu que naquele dia os gigantescos e maravilhosos monumentos estavam ali somente pra nos receber. O complexo foi erguido sob o reinado de Snefru, um faraó obstinado a construir uma pirâmide verdadeira, com os lados lisos. A primeira tentativa desmoronou. A Pirâmide Pendente é fruto da segunda empreitada. E, por fim, o sucesso veio com a Pirâmide Vermelha, que tornou-se seu mausoléu. É enorme e linda, sendo possível entrar pra explorar sua tumba. Aliás, entrar em uma pirâmide uma única vez é mais do que suficiente. Tudo o que poderia haver de interessante no interior ou foi roubado ou está nos museus. Sobram apenas as passagens estreitas, íngremes e mal ventiladas e algumas galerias com um cheiro quase insuportável. A experiência é válida, mas desgastante. Em Dashur ainda existem outras opções, como a parcialmente derrubada Pirâmide Negra, que a bem da verdade, não causam o mesmo impacto dessas que já falamos.




Foram esses milagres da engenheira que abriram as portas para a construção das pirâmides de Gizeh. Tudo isso há mais de 4.500 anos, quando essa região descolava-se do restante da humanidade e deixava a pré-história pra trás.
Em Gizeh estão as pirâmides de Keops, de Kéfren, a Esfinge, além de outras pirâmides menores, tumbas e museus. A única das 7 maravilhas do mundo antigo a permanecer de pé, a Grande Pirâmide de Keops é monumental. Desde sua construção, o Homem não foi capaz de fazer algo paralelo. Ao seu lado, está a quase tão alta Pirâmide de Kéfren, que tem o charme adicional de manter em seu topo parte do revestimento original. Além da bela esfinge perfeitamente alinhada à sua frente. A cada dez passos, surgia um ângulo novo pra admirá-las. E também surgia alguém oferecendo uma volta ou uma foto em um cavalo ou camelo. De todos os pequenos golpes existentes no Egito, talvez o mais malicioso seja daqueles que se oferecem para montar junto com as mulheres. Sob nenhuma hipótese aceite isso!
Ao final de um dia como esses, voltamos pra nossa simpática pensão cansados, mas muito satisfeitos. Mais um sonho foi realizado e mais uma página foi escrita.



Uma delícia ler o post de vocês, aliás como sempre!
Beijos e saudade
Denise.
Saudades do nosso chope de sexta feira :)
Bjos
lê e fred,
salam aleikum!
as fotos estão sensacionais!!!!!
acompanhar a viagem de vcs é um prazer!
bjos!!!!
Valeu, Fê! Que bom q tem sido um prazer!
Bjos, Maías salaama!
lê e fred,
salam aleikum!!!!!!
as fotos estão sensacionais!!!!!!
acompanhar a viagem de vcs é um prazer!
bjos!!!
Queridos, quem diria que depois de tanta incerteza e ansiedade, o Egito iria presenteá-los (e consequentemente a nós, rs!) dessa forma tão imprevisível e maravilhosa, hein?! Continuo me deliciando com o blog! Beijos!
Bjos, Zita! Saudades de vc!
Fred e Lê,
Que emoção deve ter sido ver toda essa beleza histórica. Seus rostos já dizem tudo, só risos… Fico boba com toda a esperteza de vocês em escolher o que fazer e, principalmente, o que evitar. Além de um livro, um guia prático. =O
Ótimo, Cibele! Tomara q seja mesmo útil pra outras pessoas.
Por sinal, em Madrid, lembramos de vc no Palácio das Cibeles!
Bjos
Muito bacana! Cá estou eu, na maior rebordosa, curtindo uma ressaca de segunda-feira chuvosa do Rio quando entrei no blog pra ver o que há.
Caraca, muito bom! Esse passeio de vocês é incrível! Continuo passando mal, mas até um pouco mais animado. Ou não.
Abraços! Sou leitor fã, isso aqui vai virar livro.
Valeu, Peixe! Pelo menos esse risco aqui a gente não corre. É bem difícil encontrar uma cerveja pra vender, ficar de ressaca, então, quase impossível! ehehehe
Abração
Fred e Letícia,
Por tudo que vcs viram e viveram, tenho certeza que o Egito é uma viagem obrigatória para 10 entre 10 seres humanos. Mais uma vez parabéns e nada de desânimo em continuar tão bem escrito, moderno e prático diário de viagem. Estamos acompanhando passo a passo.
Abs,
Bruno e Juliana.
P.S – Não sei se alguém já te contou, mas seu xará ex ídolo Fred é a mais nova contratação do ataque do Galo. Seu time vai bem na Libertadores, mas não se preocupe, assim que for eliminado te mando uma msg.
Fala Brunão!
Valeu pelos elogios! E pode deixar q estou acompanhando daqui o time q tem o melhor desempenho jogando em casa entre todos os clubes na Libertadores. Alçapão é o Mineirão ou onde quer q a gente jogue!
Não sabia dessa contratação. É boa mesmo, fiquei com inveja. Quem sabe dá um jeito no seu time q (mais uma vez) está bem mal esse ano…
Abração pra vc e bjos pra Ju!
Leticia, estou emocionada… Acabo de descobrir vc neste lindo blog fazendo esta maravilhosa viagem. Já telefonei para a Mariana para contar. Vc está linda. linda. Com certeza vou continuar viajando com vcs os 320 dias que faltam. Felicidade e que vcs vivam intensamente cada momento desta incrível experiência de vida. Fiquem com Deus.
tia Teresa, mãe da Mari do Instituto Guanabara.
Oi, tia Teresa! Tenho falado bastante com a Ciça no facebook. Tentei falar com a Mari, mas não consegui. Que bom que vc me descobriu :)
Bjos pra todos!
ps: Bibi Almeida é a Beatriz? Tá linda e enorme!
Parabéns pessoal! Fotos lindas! Em relação ao trânsito, se preparem. Vários lugares no oriente são assim, especialmente na Índia. “buzinar” é um “rito de passagem”. Buzina-se não para “gritar” com o outro ou “brigar”, mas, exatamente para dizer o que vcs descreveram: “opa, estou passando, entrando, saindo, estou aqui!”. Sucesso e Avante!
Leandro e Tatiana.
mundo bom humor = muito bom humor
Lets e Fred
Eu e Dimi lemos o texto acima juntinhos….tão romântico :) Incrivel essa viagem e o tanto que os textos estão cheios de história e mundo bom humor. Ri HORRORES com as múmias dos proletariados (cá entre nós, vou pagar pra ver rico, minha gente? ) :D
E esse transito doido? E as dicas da malandragem? E essa geometria PERFEITA? E o céu…meodeos!!!!!! E como vcs estão lindos!
A foto do Fred na pirâmide me fez refletir : parece que somos tanto, e na realidade é tudo tão relativo…
To adorando as fotos, os textos, a viagem.
Curtam muito. Beijokas
Sandra
Ps Ler um texto com os comentários do Dimi nao tem preço :D
É outra viagem!
a gente pagaria pra poder ouvir tb esses comentários! rs… Bjão, Sandra!
isso é uma das mais extraordinárias que já vi alguém fazer! muito feliz por vocês!
(….adorei a lets vestida de evangélica…)
sem comentários! ahahahaha!
Estamos acompanhando com assiduidade o blog, sempre ansiosos por novos posts. Nunca é demais dizer que as fotos estão lindas e que temos apreciado a aula recebida sobre cada lugar. Que bom para vocês que o Egito esteja vazio (exceção feita para os mochileiros ousados, velhinhos vagarosos e crianças impertinentes. rs…rs…)
Que tudo continue dando certo.
Só restam 320 dias!
Bjs.
hahaha! Velhinhos vagarosos e despudorados! Ontem estávamos no meio do deserto em um oásis e no pouco de água que brotava do chão, não é que tinham uns velhinhos nadando peladões?! rs… Continuem por perto! Bjos