no litoral do marrocos


Fès, 18 de março de 2011

Demoramos um pouco a dar notícias e há muito pra contar. Vamos continuar exatamente de onde paramos: a 40.000 pés de altitude, no vôo entre Lyon e Agadir. Pouco antes de pousar, nosso avião passou rente ao Atlas, uma cadeia montanhosa que corta o Marrocos como sua espinha dorsal e que ultrapassa os 4.000m. Foi fantástico ver seus cumes nevados do alto, um belo primeiro cartão de visitas. Logo em seguida, completaram as boas primeiras impressões a temperatura agradável ao colocar os pés pra fora do avião e o bonito aeroporto que nos esperava.

O Marrocos apresenta seu cartão de visitas

Mas, podemos dizer agora que já temos mais do que primeiras impressões que viajar para o Marrocos não é garantia de dias tranqüilos e relaxantes. Uma grande experiência, sem dúvida, mas em que os vários ótimos momentos são pontuados por situações de estresse e desconforto. A onda de turismo ocidental é quase uma novidade e a estrutura em alguns lugares é precária e em outros chega a ser hostil. Fora a distância cultural que temos para uma nação árabe e islâmica. Por outro lado, essa diferença é grande parte do barato de estar aqui. Some a isso um cenário surreal, com paisagens que ultrapassaram de longe todas as nossas maiores expectativas. Tudo isso está fazendo do Marrocos uma etapa intensa da nossa jornada, que ora nos encanta, ora desencanta. De toda maneira, em nenhum momento tivemos dúvidas de que foi uma escolha acertada e que valeu muito à pena ter vindo.

Típica produção de tapetes em uma casa berbere: outra cultura!

  

Terra de paisagens espetaculares

 

Agadir

Agadir, o nosso destino mais ao sul no País, é uma porta de entrada relativamente amistosa. É um balneário que gira em torno principalmente de turistas europeus. Por essa razão, é até bem ocidentalizada e conivente com nossos costumes fora de seus padrões. Aliás, em todo o Marrocos percebemos certa naturalidade com os hábitos ocidentais (por sinal, a expressão soa até errada, já que o Marrocos está mais ao ocidente que Grenoble, por exemplo). Na praia, vimos até turistas de biquíni, embora entre as marroquinas o mais comum é mesmo a burca ou pelo menos um lenço tampando o cabelo e as roupas cobrindo todo o corpo. Repleta de hotéis e com pouco mais do que a praia a oferecer, Agadir dificilmente irá surpreender um brasileiro acostumado a uma costa espetacular.

O que chamou atenção mesmo foi a imagem do rei espalhada por todos os lados. Em qualquer estabelecimento comercial, seja hotel, restaurante ou uma bodega qualquer, tá lá ele majestosamente em alguma foto. Mais do que isso, sua cara está afixada nos postes nas ruas, é referenciado em enormes letreiros nas montanhas e seus antecessores recentes dão nome às principais avenidas. Ele não é o rei apenas do Marrocos, o cara é também o rei do Marketing. E em tempos de conflitos no mundo árabe, mal começaram alguns protestos e ele anunciou medidas que hipoteticamente irão intensificar a democracia. Os ânimos se acalmaram e nós, que estávamos por aqui, sequer notamos algo de anormal.

Deus, o Povo, o Rei diz esse e muitos outros letreiros gigantes espalhados por todo o Marrocos

Como já está virando tradição encontrar bons amigos nessa caminhada, isso aconteceu mais uma vez. Nos juntamos ao Alex e ao Marcelo, parceiros de muitos momentos, desses e de outros tempos. Junto com eles, uma ótima turma e outras 3 nacionalidades: Venezuela, Alemanha e Macedônia. Bela companhia, pena que por pouco tempo!

Essaouira

Ainda no litoral, seguimos um pouco mais para o norte até Essaouria. A cidade recebe todas as nossas recomendações – gostamos muito! Diferente de Agadir, Essaouira não depende da praia para ser interessante. Foi lá que entramos em nossa primeira Medina. A Medina é o que outrora fora toda a cidade, cercada por muralhas, cheia de tradição e construções antigas. É um mundo à parte, pertencendo à outra época e cultura. Para dar uma referência, se fosse na Europa, seria o centro histórico. Mas, no Marrocos mantém-se mais isolada por muros com umas poucas entradas para esse universo paralelo. Na Medina de Essaouira não entram carros e, embora seja confusa, quase caótica como todas as outras, por não ser tão grande, em pouco tempo dá pra se localizar e andar com certa orientação.

Andando pela Medina de Essaouira
Cada pequena rua pode guardar uma surpresa como essa

Lá ficamos em um albergue com cara de cantinho pra chamar de seu. O tipo de lugar pra ficar à vontade. Durante o dia, o programa é se embrenhar nas ruelas e becos cheios de pequenas lojas e restaurantes, andando em meio às cores, artesanatos e cheiros que aos poucos vão migrando do exótico para o encantadoramente familiar. Surpreendem as burcas que tampam até os olhos, as pirâmides de temperos de todos os tipos ou a típica arquitetura ricamente trabalhada adornando portas e janelas aqui e ali. No roteiro, o Mercado de Peixes e a fila de canhões em uma das extremidades da muralha que protegia a cidade de invasores que viessem pelo mar.

Pra muita gente hospedar-se em um albergue pode parecer apenas uma questão de economia. Bem, essa não deixar de ser uma razão fundamental. Contudo, há outros benefícios que vêem como agradáveis efeitos colaterais. Um albergue é uma oportunidade inigualável de interagir além do “com licença” e “obrigado” com pessoas do mundo inteiro. Nessa noite, na nossa mesa de jantar com menos de 20 pessoas, estavam reunidas 11 nacionalidades diferentes! A riqueza que isso significa não cabe em um punhado de palavras.

Na porta do albergue. Nunca é fácil encontrar um endereço nas Medinas.

Por falar em jantar, a comida no Marrocos é muito saborosa, embora repetitiva. Claro que ela tem as suas sutilezas, mas nos restaurantes por onde passamos tem sido difícil fugir da escolha entre cous-cous e tagine sem cair nos sanduíches ou pizzas. Já bebida alcoólica, pra quem não abre mão, é bom se preparar. É proibida pelo islamismo e eles realmente não bebem e tampouco vendem. Se fizer muita questão, pode até encontrar. Não chega a ser contra a lei, então em algum lugar há de achar. Mas, não é em toda esquina e nem mesmo em toda cidade que tem. E seu consumo pode também não ser muito bem visto.

Por algum motivo, nos sentimos tão bem em Essaouira que não queríamos mais sair. E acabamos nos separando do restante do grupo. É bem compreensível que com menos tempo disponível, as pessoas queiram usufruir ao máximo dos dias. Mas, após um mês de viagem e com muito ainda pela frente, nós já sentimos que é preciso seguir com calma, descansando eventualmente. Foi uma pena desencontrar do grupo e passamos a tentar viabilizar um reencontro em algum outro ponto do País, o que afinal parece que não vamos conseguir.

Alex, Marcelo e Letícia. Foi rápido, mas excelente tê-los encontrado!

17 comentários Adicione o seu

  1. eliane Moraes Leite disse:

    Letícia,

    Parabéns, muitas felicidades, amor !!!!!!
    Com certeza será uma comemoração inesquecível!!!!!!!
    Estou adorando acompanhar sua viagem. Está sendo muito enriquecedor.
    Aproveite bem seu dia!!! Desejo tudo de melhor para você!!!!
    Beijos especiais

    1. Oi, Eliane! Obrigada pela lembrança e pelo carinho!
      Meu aniversário foi muito bem aproveitado em Madrid…
      Fico feliz que esteja acompanhando o blog.
      bj grande!

  2. Rogério disse:

    Show de bola! Estamos todos viajando um pouco com vocês, to adorando ler sobre a viagem.
    Abraço,
    Rogério

    1. Valeu, peixe! Mande notícias daí de vez em qdo… Abração!

  3. Guilherme Marinho Miranda disse:

    é o fino da bossa poder ver essa turma reunida… daqui da Praça Duque de Caxias, comendo um espaguete e tomando uma brahma no bolão, ouvi os sons e senti os odores de Essaouira… bon voyage, mes amis!

    1. Melhor ainda se vc tb estivesse lá! Mas, um espaguete com uma gelada no bolão tb não é de se jogar fora. Ainda mais se der pra voltar andando pra casa!

  4. dimitri disse:

    Fale mais sobre: “…Foi uma pena desencontrar do grupo e passamos a tentar viabilizar um reencontro em algum outro ponto do País, o que afinal parece que não vamos conseguir.” – QUE BAFUUUUUUUUUUUUUU!!!

    AMEIIII MARROCOS!!! VIAJEI COM VCS.

    1. Comédia! hahahahahaha!!!

  5. Amanda LOPES disse:

    Ei Fred!! Eu lembro do Alexandre, ele também estudou no CSA ?? Que viagem de reencontros essa, não?? Tô curtindo muito ser espectadora de tudo isso.. Seus texto são fáceis e de uma leitura extremamente agradável.. Tô adorando!! Continue nos deixando super informados , pode favor!! Bjos e boa viagem, seja para onde for!!!

    1. Valeu, Amanda!!! É o Alex do CSA, mesmo. Mtos reencontros, ótimo!
      Bjos!

  6. Iara França disse:

    Olá.. Estou gostando muito de acompanhar voces… Fiquei sabendo da aventura de voces em sala de aula… Sou aluna do Jeferson amigo do Fred, estavamos em sala de aula com uma apresentaçao sobre redes sociais… Dai ele nos mostrou voces…
    Muita sorte a voces..

    1. Poxa, q legal! Mande um abraço ao Jeff!

  7. ThaCunha disse:

    Fred!!!!
    Fiquei sem palavras!
    Uma expériência dessas é como viver uma vida inteira em 12 meses!
    Vou acompanhá-los!
    bjos a Letícia tb.
    ThaCunha

    1. É uma experiência e tanto mesmo! Tem um mês, mas parece mto mais! Que bom q vc vai acompanhar, Bjos!

  8. Rômulo disse:

    Por coincidência, hoje a Kátia comentou que já tinha um bom tempo que vocês não davam notícias. “Não nos deixem ansiosos”. Hehehe

    Abraços

    1. Vamos tentar, Rômulo! rs… Abraços

  9. Bethânia Andrade disse:

    Casal 20,

    Que alegria vê-los tão felizes e tão lindos!!Estamos amando acompanhar o blog!
    Bjão grande,saudades

    Bethânia e Fred

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